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Povoamento da america
O povoamento da América é uma questão discutida arduamente pelos científicos modernos. Esses científicos não têm dúvidas que o ser humano não se originou na América e que o continente foi povoado por homens provenientes de outras partes do mundo. Existe um consenso, ainda que unânime, que a América era povoada desde a Sibéria, na Ásia. Entretanto, além desse consenso relativo, na primeira década do século XX a comunidade científica discute o fato, as rotas e a quantidade de ondas migratórias que povoaram o continente americano.
As teorias para a explicação da chegada do homem à América se dividem em dois grupos:
Teoria do povoamento pelo Estreito de Bering
Esta teoria foi proposta inicialmente no ano de 1590 d.C. por José de Acosta e passou a ser aceita em 1930. Tal hipótese tornou-se aceita cientificamente entre os anos de 1928 e 1937 quando foram encontrados, em escavações arqueológicas nas proximidades da cidade de Clovis (Novo México), EUA, artefatos de mesmo tipo dos anteriormente descobertos na região da Beríngia.1 Atualmente é consenso entre os especialistas que durante a última glaciação a concentração de gelo nos continentes fez descer o nível dos oceanos em pelo menos 120 metros. Esta descida provocou em vários pontos do planeta o aparecimento de diversas conexões terrestres, como por exemplo Australia-Tasmania com Nova Guiné; Filipinas e Indonésia; Japão e Corea.
Um destes lugares foi a Beringia, nome que recebe a região que divide a Ásia da América, é nesta área que ambos os continentes entraram em contacto. Devido a sua baixa profundidade (entre 30 e 50 metros) a descida do nível do mar colocou a descoberto um amplo território que alcançou 1500 KM, unindo as terras da Sibéria e do Alasca, aproximadamente 40.000 anos atrás.
Teoria Malaio-Polinésia e Australiana
Esta teoria defende que diversas tribos teriam se utilizado de canoas primitivas e que indo de ilha em ilha rumo a leste teriam chegado na América do Sul. O principal defensor desta teoria foi o antropólogo francês Paul Rivet, que defendeu esta teoría em 1943. Não negava a passagem do homem pela Beringia apenas defendia que a chegada do homem na América teria ocorrido por mais de uma rota. Esta passagem teria ocorrido em dois momentos e de dois lugares diferentes. Primeiramente da Austrália 6.000 anos antes de Beringia e da Melanesia um pouco mais tarde.
26032009
Povoamento das Américas: um debate sem fim
O cenário Milênios antes do
período geológico e climático atual, o clima da Terra era mais frio. Grandes
geleiras estendiam-se imediatamente ao norte das regiões hoje ditas temperadas
do hemisfério norte; na maior parte das regiões intertropicais, embora o clima
não fosse tão frio, imperavam climas geralmente mais secos que os de hoje. Como
as águas ficavam retidas sob a forma de gelo nas zonas polares, o nível dos
oceanos era cerca de 100m mais baixo. Assim, podia-se transitar a pé por uma
passagem de terra entre a Sibéria e o Alasca na região da Beríngia. Com as
precipitações, as geleiras aumentavam, bloqueando essa passagem. Os períodos em
que a travessia podia ser feita eram, portanto, bastante restritos.
A probabilidade de
que alguma leva de imigrantes tenha vindo pelo mar há mais de dez mil anos,
quando as técnicas de navegação eram muito precárias, é remotíssima. A
propósito, o povoamento das ilhas do Pacífico é comprovadamente muito mais
recente.
Infelizmente, as
regiões através das quais os imigrantes asiáticos alcançaram a América do Norte
estão hoje sob as águas geladas do Ártico ou foram em algum momento ocupadas
por geleiras. Os mais antigos locais de habitação da Beríngia e do Alasca
encontram-se, portanto, submersos ou foram destruídos pelo gelo. Os sítios
identificados pelos arqueólogos localizam-se mais ao sul e não correspondem às
regiões habitadas pelas primeiras gerações de colonos.
Os indícios
Vestígios
inquestionáveis da presença humana entre 12 e 11.500 anos atrás foram
encontrados em abrigos ou, mais raramente, a céu aberto, na Califórnia e México
(América do Norte) e no Chile central, no Peru e nas regiões Central e Nordeste
do Brasil (América do Sul). Os sítios que permitem essa afirmação categórica
contêm instrumentos de pedra lascada feitos com matéria-prima de boa qualidade
trazida de fora da região. Muitos desses objetos, produzidos por meio de golpes
certeiros, são complexos demais para terem sido feitos por fenômenos naturais.
Foram datados a partir do carvão de fogueiras e, por estar associados a
artefatos, pode-se inferir que resultem de ação humana. Muitas vezes os sítios
apresentam ainda vestígios alimentares característicos.
O estudo das
condições de deposição do sedimento (a terra dentro da qual se encontram os
vestígios) permite verificar que não houve perturbações tardias capazes de
misturar objetos recentes e antigos. A partir de onze mil anos atrás, aparecem
também esqueletos, particularmente numerosos nas imediações de Lagoa Santa,
Minas Gerais: Lapa Vermelha, Cerca Grande e Santana do Riacho.
Há vários sítios,
no Brasil inclusive, com indícios de uma ocupação possivelmente mais antiga.
Infelizmente, todos apresentam algum problema que impede de se chegar a uma
conclusão definitiva. Vários parecem conter instrumentos de pedra, mas estes
são feitos a partir de rochas do próprio local ou podem ter sido trazidos por
fenômenos naturais. São tão toscos que o lascamento rudimentar pode ter
resultado de um choque acidental: pedaços de blocos do teto, ao cair uns sobre
os outros durante milênios, acabam se lascando espontaneamente. Restos de
carvão e pedras queimadas podem ter sido produzidos por ação de raios. Embora,
em outros casos, instrumentos e fogueiras pareçam inquestionáveis, há indícios
de que as camadas sedimentares foram perturbadas e de que os vestígios
arqueológicos podem ter-se infiltrado a partir de uma camada sedimentar mais
recente.
Não há por que
recusar a priori a possibilidade de uma presença humana mais antiga na América,
mas os indícios propostos devem ser meticulosamente avaliados. Muitas vezes os
arqueólogos acabam interpretando os dados disponíveis de modo divergente,
fazendo com que o público não saiba em quem acreditar. Nos últimos anos, foi
divulgada na imprensa a existência de sítios que comprovariam a presença do homem
no Brasil há dezenas e até centenas de milhares de anos. É preciso que se saiba
que os especialistas estão longe de alcançar unanimidade em torno desse
assunto. De qualquer modo, se havia gente no sul dos Estados Unidos a 11,5 mil
anos atrás e no Chile a 12.500 anos atrás, deduz-se que seus antepassados
tenham chegado ao norte do continente — a milhares de quilômetros de lá — muito
tempo antes.
A única possível
conclusão é, quaisquer que sejam os trabalhos relacionados as Antigüidades, das
mais distintas áreas do conhecimento, eles fornecem hipóteses reflexivas e de
comparação que permitem levar mais longe a análise, e isto em todos os setores
da ciência, contribuindo para um conhecimento mais profundo da história humana.
Os atores
Quem eram os
primeiros imigrantes? Nada podemos dizer a respeito de possíveis indígenas
anteriores a doze ou onze mil anos atrás. Verifica-se, no entanto, a partir
desse instante a presença de populações muito diferentes tanto dos atuais
asiáticos como dos índios modernos. Só a partir de aproximadamente oito mil
anos atrás é que aparecem vestígios de homens com traços asiáticos, ditos
“mongolizados”, já bastante parecidos com os indígenas atuais.
Estudos muito
recentes sugerem que os primeiros habitantes das Américas (autores da cultura
Clóvis nos Estados Unidos e de outras culturas da mesma época na América do
Sul) descendiam de uma população não mongolizada da Ásia central. Parte dessa
população teria migrado para o sul, chegando à Austrália, enquanto outra parte
teria viajado para o norte, penetrando as Américas. Pode-se, assim, explicar a
semelhança entre o chamado Homem de Lagoa Santa e as populações aborígines da
Austrália, embora tenhamos certeza de que não houve navegação entre esses dois
continentes. Na região de origem, esses primitivos Homo sapiens teriam sido
substituídos por populações mongolizadas, que, por sua vez, produziram novas
ondas migratórias em direção às Américas.
Essa hipótese,
ainda em discussão, sugere que quatro ondas migratórias principais vindas da
Ásia penetraram as Américas (os esquimós são representantes da última delas),
sendo que pelo menos duas teriam alcançado a América do Sul.
Podemos chegar a um
julgamento definitivo?
Enquanto a
arqueologia fornece provas definitivas da presença humana na América entre 12,5
e 11 mil anos atrás, lingüistas e estudiosos de ADN mitocondrial acreditam que
a diversificação biológica e lingüística que se verifica no continente permite
supor um período de tempo maior, da ordem de vinte a trinta mil anos. Os
arqueólogos não devem descartar essa possibilidade, mas o fato de os primeiros
colonizadores terem sido provavelmente pouco numerosos faz com que sejam
remotas as chances de identificação de seus vestígios. Caso alguns dos sítios
polêmicos mencionados anteriormente sejam de fato marcas da sua presença, isso
significaria que seus habitantes trabalhavam a pedra de modo muito grosseiro se
levarmos em conta a habilidade de populações contemporâneas de outras partes do
mundo. Mas essa hipótese é plausível, já que, sobretudo em meio tropical, a
madeira pode ter sido muito mais utilizada do que a pedra.
Os cientistas
devem, portanto, continuar buscando indícios dos primeiros americanos e discutir
sua validade caso a caso. O papel da controvérsia na arqueologia, que não está
no domínio das ciências experimentais, é essencial. Os “advogados do diabo” são
necessários para obrigar os que defendem a existência de sítios supostamente
pleistocênicos na América a controlar suas informações, refinar seus argumentos
e comprovar suas asserções. Mas nem sempre é fácil manter as discussões sobre
esse tema — o mais polêmico da arqueologia americana hoje — nos limites da
elegância desejável.
In: Ciência
Hoje, vol.25, nº149, maio 1999
André Prous
Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas/Museu de História Natural,
Universidade
Federal de Minas Gerais
Pesquisador do CNPq
responsável pela Missão Arqueológica Franco-Brasileira de Minas Gerais
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